14 dezembro 2010

UM LIVRO PARA TODOS

Eu como educadora, leitora e escritora fico imensamente feliz quando vejo iniciativas como esta da Wanda.
Parabéns a todos àqueles que, como ela, promovem o acesso ao mundo maravilhoso dos livros à todos!!!

Eis a matéria publicada no Blog da Biblioteca Florestan Fernandes - FFLCH USP

Um livro para todos: braille sem páginas perfuradas

14/12/2010 por bibliofflch

Livros em braille são a alternativa mais eficaz para garantir a leitura por parte daqueles que possum alguma deficiência visual. No entanto, é curioso imaginar que um livro escrito nesse método não é, de fato, totalmente inclusivo, já que pessoas que não são cegas dificilmente terão conhecimento suficiente para ler uma obra escrita em braille. Com alguma criatividade, porém, é possível superar essa barreira e criar uma obra destinada a *todos* os leitores, quer tenham eles deficiência ou não.
Esta é a ideia da designer gráfica Wanda Gomes, que criou um livro em braille sem o uso de perfuração, o processo básico da escrita de um livro nesse estilo. O novo método, denominado Braille.BR, consiste num tipo de impressão sobreposta, que não prejudica a impressão convencional. O sistema braille é usado juntamente com a impressão normal, garantindo a leitura tanto por parte de cegos quanto daqueles que possuem visão plena.
Produzido conforme esse tipo de impressão, o livro Adélia Cozinheira foi enviado recentemente a escolas, bibliotecas e instituições educacionais, com o intuito de oferecer a crianças com e sem deficiência visual a mesma possibilidade de leitura. No caso deste livro, outros elementos também foram usados: as crianças também podem sentir o livro (pelo tato) e cheirá-lo, já que esses dois aspectos da percepção humana foram considerados na produção gráfica da obra.
Sem dúvida, um método que ainda vai dar o que falar, e de uma forma bastante positiva.

13 dezembro 2010

Google lança 'iTunes' dos livros

Mais um passo no projeto megalómano lançado pela Google em 2004 de colocar todos os livros do mundo à distância de um clic.

Escrito por: Carlos Abreu (www.expresso.pt)     21:36 Terça feira, 7 de Dezembro de 2010
extraído do site: http://aeiou.expresso.pt/google-lanca-itunes-dos-livros=f619868

A Google lançou ontem nos Estados Unidos o eBooks, uma plataforma de distribuição de livros eletrónicos que integra uma loja online (Google eBookstore) bem como leitores específicos para este tipo de ficheiros na web (Google Web Reader ) e nos dispositivos móveis com o sistema operativo Android ou iOS (Google Books apps ).
Para gigante norte-americana da Internet esta plataforma vem "tornar mais fácil aos autores e aos editores encontrarem novos públicos para os seus livros e aos leitores comprarem e lerem livros na maioria dos dispositivos". Em 2011deverá chegar à Europa.
Até lá, os norte-americanos poderão aceder à eBookstore da Google e comprar o direito a ler uma obra que estará sempre alojada algures num servidor remoto. Ainda que a leitura possa decorrer em dispositivos tão distintos como um vulgar computador portátil, um tablet (iPad, incluído), smartphones (iPhone ou Android) e até em leitores de livros eletrónicos de formato aberto (não é o caso do Kindle da Amazon), a verdade é que o cliente terá sempre de estar ligado à Net para aceder à obra. Os restantes internautas poderão consultar as obras gratuita, como por exemplo "Os Lusíadas ". A operação paga, por enquanto, decorre apenas nos EUA.
Os lucros das vendas serão repartidos com as editoras, que nesta fase de arranque já são mais de quatro mil. Os cerca de três milhões de obras disponíveis custam entre um e 300 dólares. Resta saber se a Google conseguirá afrontar a Amazon que nesta altura, controla cerca de dois terços do mercado do livro eletrónico nos Estados Unidos?
Recorde-se que em 2004 a Google anunciou o seu projeto, aparentemente megalómano, de colocar à distância de um clic todos os livros do mundo. Desde então, segundo a empresa fundada por Larry Page e Sergei Brin , já foram digitalizados mais de 15 milhões de livros em mais de 400 idiomas.

08 dezembro 2010

HUMILDADE x VAIDADE

Hoje falarei de algo que muito me chamou a atenção nesses últimos dias: a humildade de alguns escritores e a vaidade de outros.

Tenho frequentado diversos eventos de literatura com escritores renomados (seja pelo público, seja pela crítica) e tenho notado dois tipos de postura nos autores: alguns são atenciosos com seu público, conversam de igual pra igual e tem humildade; enquanto outros só sabem repetir os números de "sua extraordinária vendagem de livros" (que as vezes nem é tudo isso) e falar coisas do tipo: "não considero tudo que escrevo como obra prima, mas pelo menos dois dos meus dez livros são" (acreditem eu ouvi isso de um escritor super pop, numa bienal!)

Engraçado que reparei também que os mais humildes geralmente tem um currículum com mil premiações importantes, jabutis e etc e tal, enquanto os vaidosos que só pensam em aparecer na mídia não tem nenhuma! Tá, tá bom, conheço um deles que tem premiações importantes, mas a vaidade dele é tão grande que ofusca sua bela poesia.

E não pensem que eu tenho alguma coisa contra autores pops, ao contrário, eu adoro eles! Thalita Rebouças e Nicholas Sparks são fenomênos de venda e fenômenos de humildade, gentileza e atenção com seus leitores.

Enfim, escrevo isso para homenagear escritores como os já citados Nicholas Sparks e Thalita Rebouças, e as incríveis pessoas e incríveis profissionais Rodrigo Lacerda, Carlos de Brito e Mello, Manoela Sawitski, Ana Miranda, Márcio Souza, Adriana Lisboa, Sérgio Rodrigues e Andrey do Amaral, que fazem sua arte falar por si própria e lhe render os devidos méritos sem precisar sair contando vantagem por aí.

Tenho minhas dúvidas a respeito daqueles que só sabem se vangloriar.
E tenho dito!

24 novembro 2010

Nicholas Sparks no Brasil!

Nicholas Sparks, um dos autores mais queridos (e famosos!) do mundo está de malas prontas para vir ao Brasil pela primeira vez. Seus livros estão atualmente sendo publicados no Brasil pela Novo Conceito.
Autor de sucessos literários como Diário de uma Paixão, Um amor pra recordar, Noites de Tormenta, A Última Música e Querido John  (a maioria também adaptada com igual sucesso para o cinema), Nicholas deve fazer a alegria dos fãs passando pro várias cidades brasileiras autografando seus livros.
Se você é fã dele como eu, confira as datas e cidades que ele visitará:

•Dia 1/12 as das 19:00 as 21:30 hs em São Paulo, na Saraiva do shopping Center Norte.

•Dia 2/12, das 19:00 as 21:30 hs no Rio, na Saraiva do Rio Sul

•Dia 4/12, das 19:00 as 21:30 hs em Salvador, na Saraiva do Salvador Shopping
•Dia 6/12, das 19:00 as 21:30 hs em Curitiba, na Curitiba Megastore

•Dia 7/12, das 18:00 as 21:00 horas em Ribeirão Preto, na Paraler do Ribeirão Shopping.

Quem quiser também pode entrar no site do fã clube oficial
http://www.nicholasparks.com.br e fazer a sua carteirinha do fã clube! É só preencher um cadastro no site que eles te mandam por email!
 
O site oficial do Nicholas é: http://www.nicholassparks.com/ 
 
Um abraço e até!

15 novembro 2010

Resumos Bienal 8 Carlos de Brito e Mello e Manoela Sawitski

Tema: Os desafios da nova prosa brasileira.

Para Manoela, a internet é a melhor amiga do jovem escritor por democratizar o acesso, a exposição e divulgação das obras.
Pata Carlos, a nova geração da prosa brasileira tem muitos relatos autobiográficos em suas obras, é a obra transitando na vida do autor e vice-versa.

Falando sobre os críticos, Manoela desabafa: A crítica não pode ter o papel de elevar ou condenar. Ela não é a autorização para você continuar ou parar de escrever. O autor não pode se achar o máximo quando é elogiado e nem se achar um lixo se é criticado.

Carlos finaliza citando o autor Samuel Beckett que hoje é Nobel de Literatura mas teve seu primeiro livro recusado mais de 70 vezes.

É isso aí pessoal, não podemos desanimar nunca!

12 novembro 2010

Resumos Bienal 7 Eduardo Spohr e Orlando Paes Filho

Tema: Entre vampiros e sagas: o livro é uma aventura.

Os autores rebatem a premíssa de que se o livro fez sucesso é fraco, baixo nível.
Para eles é preciso ter personalidade e seguir em frente pois quando se faz sucesso sempre surgem os "haters" (pessoas que odeiam o livro).

Orlando também afimou que não permitiu a adaptação de Angus para filme pois queriam retirar toda a parte do misticismo cristão do personagem (um cavalheiro medieval) o que, para ele seria descontextualizar a história.

Os autores deixam como dica o site: http://www.nerdcast.com.br/ e o episódio 215, onde eles explicam uma maneira de "como escrever".

Para ambos, entretanto, há uma dica principal: planejar a história e trabalhar!

08 novembro 2010

Resumos Bienal 6 Felipe Pena e André Vianco

Tema: Literatura Pop e de entretenimento: que gênero é esse?

Para eles, toda literatura é entretenimento e arte.

Muitos escritores escrevem não para serem lidos, mas para serem estudados pela academia. É necessário escrever com paixão, com o coração e não ficar maquinando palavras difíceis.

Pena analisa que escrever "fácil" é muito difícil. Significa que o escritor soube explicar o complexo bem.

Vianco também afirma: há um pensamento de que vender muito livro (ser best seller) é pecado, no entanto o escritor precisa profissionalizar a escrita, ela é sua profissão e ele precisa ter leitores para sobreviver dela. O livro é a sedução pela palavra. Ele não é do escritor e sim do leitor, cada um faz uma leitura diferente de acordo com suas experiências.

03 novembro 2010

Resumos Bienal 5 Laerte e Marçal Aquino

Tema: Literatura, cinema, TV e quadrinhos: como se dá esse diálogo?



Para eles, o texto não tem dono. É preciso ter liberdade para se fazer adaptações sem se preocupar com a fidelidade do livro para o cinema (não pensar em traição), pois a dinâmica da linguagem é outra e é preciso levar isso em conta. É impossível incluir tudo do livro no filme.

Marçal: "Quando levanto da cama e penso em escrever digo pra mim mesmo: vou ser fiel a esse sonho".

Para ele também é importante que o escritor escreva por que tem algo importante a dizer e não de seis em seis meses só pra ganhar dinheiro.

Escrever com liberdade: as gírias e linguagem dependem do público alvo.
Entretanto, o autor não deve tutelar o público (esse pode ler, esse não). Ele deve acreditar fortemente no seu livro, na sua verdade ao escrever.

E finalizam:

"O mercado é soberano, tem que vender ou tá fora".

29 outubro 2010

Resumos Bienal 4 José Castello e Cristovão Tezza

Tema: A voz do escritor: como alcançar um estilo narrativo.



Segundo Cristóvão Tezza, a descoberta da voz nunca termina, ela começa com as referências de autores já lidos e depois nossas próprias vozes começam a surgir em nossa cabeça. Tezza afirma: "Sou um autor confessional e não autobiográfico".
Entretanto, segundo ele, "problema pessoal não é literatura", para fazer literatura é preciso que, a partir desse problema pessoal, o escritor se afaste e recrie uma história  que se torne social, aí sim é literatura. Para ele, é necessário que se crie uma estrutura ficcional. O ponto de partida pode ser o problema pessoal do autor mas o resto deve ser ficção. Segundo Tezza, é necessário partilhar uma experiência e não fechar verdades e por isso o narrador não pode ter medo de ser cruel e ficar com pena dos personagens, botando panos quentes em tudo.
José Castello, outro autor convidado finaliza: É necessário ler bastante os clássicos para enxergar como eles "se ouviam". Escrever não se ensina, escrever é se ouvir.

26 outubro 2010

Resumos Bienal 3 Ana Miranda e Márcio Souza

Tema: Quando a vida vira ficção.



Para Ana, há uma correlação profunda entre tempo e linguagem. Nos livros que descrevem períodos antigos a transposição do tempo é feita pela linguagem que mostra o espírito daquele tempo, o que era falado na época.
A linguagem é um elo entre o passado e o presente. A história é uma visão do passado com olhos do presente.

Segundo Ana, alguns escritores tem a tendência de explicar as palavras antigas em seu livro o que faz perder a naturalidade. Ex: "Tomou um suco de pucarinho, um suco feito de tal coisa, assim, assado..."

Para Márcio, os leitores devem ter discernimento na leitura pois os romances históricos embora narrem alguns fatos, locais e pessoas que realmente existiram são uma obra de ficção.

Sobre seu processo de escrita, Ana comenta:

"Meus livros quase sempre começam com sonhos. Vou elaborando meus livros todos juntos ao longo dos anos, sonho com alguma coisa e penso: um dia vou escrever sobre isso! Com o passar do tempo o livro se forma."

22 outubro 2010

Resumos Bienal 2 Sérgio Rodrigues e Adriana Lisboa

Tema: Literatura Digital, e-book e o leitor do futuro: há uma revolução em curso?



Para os autores, a literatura é feita com palavras, por isso, no caso da multimídia (literatura junto com artes visuais, música, etc...) deveria mudar de nome. O escritor na verdade não seria mais "escritor" e sim um contador de histórias.
O Sérgio deu até mesmo um exemplo: A ópera é a junção de teatro e música e tem seu nome próprio: ópera!
Entretanto, para ambos a forma tradicional de escrita só com palavras tem seu valor e se perpetua pois muitas vezes o que o escritor pensa não é aquilo que o leitor vai imaginar ao ler a obra.

Para eles, a palavra é revalorizada com a internet através do uso de blogs, msn, redes sociais, pois as pessoas sentem necessidade de se expressar com palavras.

Um detalhe porém, é que o uso da internet, facilitando a capacidade de interligar assuntos desconexos (surfando de hiperlink em hiperlink) faz com que as pessoas passem a ler mais sobre mais coisas mas com pouco aprofundamento. As pessoas estão menos pacientes, leem textos mais curtos e sintéticos, o que pode ser reflexo também de um ritmo de vida mais acelerado.
Nesse sentido, para os autores, a literatura seria como "um último santuário de calma e aprofundamento" onde as pessoas poderiam "descansar" do ritmo de vida acelerado com um romance de 500 páginas.

Sobre as redes socias, os autores a enxergam como uma forma de divulgação dos trabalhos. No entanto, alertam para o seguinte: a facilidade de publicação na internet pode causar uma publicação apressaa e "verde", que talvez ainda precisasse ser lapidada e amadurecer antes de ser publicada.

Para Adriana há prós e contras a leitura no computador: ler no computador é desconfortável, porém é mais prático e ecológico.

Os autores também compararam a forma de escrita limitada do twitter (142 caracteres) com a forma do Haicai (17 sílabas).

Para finalizar comentaram que o leitor precisa ter uma bagagem educacional para discernir o que é bom ou confiável na internet e que o autor precisa criar um tempo para escrever e isso é uma coisa solitária (precisa abdicar de outros prazeres e de companhia) e lembraram também que, nesse ponto, as redes sociais podem ser um "sugador de atenção efêmero" fazendo o escritor desperdiçar um tempo precioso, por isso é necessário ter muita disciplina e saber diferenciar a vida virtual da vida real.

20 outubro 2010

Resumos Bienal 1 Cléo Busatto e Rodrigo Lacerda

Bom dia pessoal!

Como eu disse no post anterior, entre os dias 01 e 10 de outubro de 2010 aconteceu a 1° Bienal do Livro de Curitiba. Embora tenha gerado certa insatisfação no público por causa do valor do ingresso (R$ 8,00 - imaginem isso em 10 dias, seria um dinheirão e quando se fala que o brasileiro não lê acho que isso não estimula nem um pouco alguém que não lê a se interessar por um evento cultural como esse. Se nós que amamos a literatura já achamos caro, imaginem um leigo).
Enfim, graças a Deus professores não pagavam pra entrar, então, depois de ter preenchido uma ficha enorme onde só faltaram perguntar qual era a cor do azuleijo do banheiro da escola que eu trabalhava, consegui ganhar minha credencial grátis. Aproveitei, fui em 8 dos 10 dias e fiquei em quase todas as palestras.


A primeira que assisti foi a da Cléo Busatto e Rodrigo Lacerda (Jabuti de literatura infanto-juvenil com O Fazedor de Velhos) com o tema "Pequenos leitores, grandes leitores" já que também tenho interesse num público juvenil e infanto-juvenil.

Ambos falaram coisas muito interessantes como:

- Para se formar um novo leitor é preciso fisgar esse leitor com uma boa história.
- Escrever de forma fluente, quase coloquial mas sem filtrar o vocabulário e as referências, não "baratear" no conteúdo e sim na forma mais leve e coloquial.

Também comentaram que as crianças leem mais porque são mais estimuladas na escola e os adolescentes a partir dos 12 anos geralmente se desinteressam da leitura. Alguns desses voltarão a ser leitores mais tarde, mas a grande maioria nunca mais volta.

Um dos problemas visto por esses autores é que a literatura juvenil muitas vezes se torna em uma literatura de massa doutrinária esteriotipando o adolescente como aquele que anda de skate, usa internet, gosta de balada, etc... Os personagens viram cabide de esteriótipos de adolescente (1 único personagem representa todos os adolescentes e faz tudo que eles em geral fazem). Nisso falta humanizar o personagem, falar de sentimento, de emoção e não escrever por "encomenda" reforçando esteriótipos, o que deixa o texto insonso e desinteressante para o jovem leitor. O personagem não é uma caricatura, ele sente.

Outro fato analisado foi a diferença do mercado editorial para jovens no Brasil e no exterior:

Enquanto no livro juvenil nacional geralmente se tem no máximo 150 páginas, um Harry Potter tem mais de 500.  No Brasil a literatura é muito realista, no exterior é utilizada mais magia, fantasia e isso fisga o leitor, esse mundo imaginário como uma ressignificação do real.
Outro ponto chave é a distância entre os editores e os leitores adolescentes (Harry Potter chegou a ser recusado por uma grande editora que achava que o livro não faria sucesso por ter muitos nomes estrangeiros e não ter nada a ver com a realidade do Brasil).
E, por último, mas não menos importante, no estrangeiro os autores conseguem ter mais tempo para escrever esses romanções enormes porque sobrevivem de direitos autorais, o que não acontece no Brasil, onde o escritor precisa ter outra profissão para se sustentar enquanto escreve.
É a triste realidade da cultura brasileira...

E aí, o que vocês acham? Concordam ou discordam?
Abraços e até a próxima!

02 outubro 2010

1ª BIENAL DO LIVRO CURITIBA

Começou ontem, dia 01 de outubro de 2010 a 1ª Bienal do Livro de Curitiba-PR que acontecerá no Estação Convention Center, no Shopping Estação até o dia 10.
Com atividades e palestras para todas as faixas etárias, o ingresso custa R$ 8,00 sendo que professores, profissionais do livro, bibliotecários e visitas escolares são isentos de entrada.

Sobre o local do evento, como chegar e para consultar a programação visite o site oficial http://www.bienaldolivrodoparana.com.br/

Vale a pena pessoal, tem muita gente boa que vai palestrar! Nos encontramos lá!

DIA NACIONAL DO IDOSO

DIA 01 DE OUTUBRO É COMEMORADO O DIA NACIONAL DO IDOSO E EU, COMO TRABALHO COM ESSA FAIXA ETÁRIA MARAVILHOSA, NÃO PODERIA DEIXAR DE PRESTAR MINHA HOMENAGEM.

VELHOS VINHOS (DOM HELDER CÂMARA)

Agora que a velhice começa, preciso aprender com o vinho a melhorar envelhecendo e, sobretudo, a escapar do perigo terrível de, envelhecendo, virar vinagre.

É tão importante saber envelhecer!
Saber descobrir o encanto de cada idade. Sem dúvida, há limitações que a velhice traz. Mas feliz de quem envelhece como frutas que amadurecem sem travo...
Feliz de quem envelhece por fora, conservando-se em compreensão para com tudo e para com todos, caminhando, sempre mais, no amor de Deus e no amor do próximo...
Quem conserva acesa a sua chama, quem mantém entusiasmo pelo que faz, quem sente razões para viver, pode ter o rosto cheio de rugas, e a cabeça toda branca, ainda assim é jovem!
Quem não entende a vida e não descobre a razão para viver e não vibra, não se empolga, pode ter vinte anos, mas já envelheceu.
Qualquer que seja sua idade, guarde estes pensamentos:
"O importante não é viver muito ou pouco, mas realizar na vida o plano para o qual Deus nos criou. As rosas, a rigor, vivem um dia. Mas vivem plenamente porque realizam o destino de graça e de beleza que vêm trazer à Terra."
Se sentirem que os anos passam, e a mocidade se vai, peçam a Deus, para si e para os que se tornam menos jovens, a graça de, envelhecendo, não azedarem, não virarem vinagre.

CAPACITAÇÃO PARA PROFESSORES EM PASSO FUNDO

Umas fotinhos da capacitação para professores de educação física que ministrei em Passo Fundo-RS no dia 28 de julho de 2010. O tema era atividade física para idosos, assunto sobre o qual já escrevi um livro (Atividade Física para Idosos: Apontamentos Teóricos e Propostas de Atividades, que pode ser adquirido nas melhores livrarias e pela internet também). Os participantes eram profissionais da CONSAI (Corporação Nacional da Saúde Integrada) interessados em aprender ainda mais e trocar experiências práticas. Turma participativa, adorei. Como o sucesso foi grande, quem sabe volto agora em outubro para outro evento! Abraços e até.
Primeira parte teórica




Palestrante


Turma interessada e participativa!



Professoras que querem aprender mais ainda




Segunda parte: prática
Atividade socializadora e cognitiva


Atividade lúdica de aquecimento


Atividade de socialização


Atividade lúdica de consciência corporal



20 setembro 2010

EXERCÍCIO DE ESCRITA

Bom dia pessoal!
Hoje vou postar aqui um exercício muito interessante que fiz na oficina de Mito e Literatura da Monica Berger. Primeiramente lemos o fragmento final do monólogo de Molly Bloom, de Ulisses, de James Joyce e, em seguida lemos o conto O espelho de Machado de Assis.
O exercício consistia em mesclar o estilo do fluir da consciência do texto de Joyce com a temática do espelho de Machado de Assis.

Eis aqui meu resultado:


O ESPELHO


O espelho me espelha e me revela coisas que eu não quero ver. Não sou essa imagem rechonchuda de olhos vermelhos e nariz grande, não, eu sou linda e maravilhosa e sem essa boca pequena. O espelho é um espelho do que não sou e não quero nunca ser, uma imagem aprisionada e triste refletindo gestos de alguém livre e feliz. O espelho é mentiroso e me mostra um reflexo que não sou eu, como poderia ser eu se não me reconheço nele? O espelho mentiroso é um espelho do não eu, vejo nele uma face estranha e desconhecida, viro o rosto e fujo dele. Gosto mais de me imaginar sendo do que ser realmente.

26 agosto 2010

AVISO AOS NAVEGANTES

Olá pessoal!

Primeiramente, quero pedir desculpas pela desatualização do blog, mas tenho um argumento que reduz minha culpa (displicência): estou atualmente trabalhando no meu primeiro romance entitulado "Amor, Maybe".

O livro já está pronto, faltando apenas umas correções finais e umas modificaçõezinhas aqui e acolá, mas tenho dedicado bastante tempo a isso pois planejo conseguir a publicação até o fim desse ano.

Qualquer novidade eu aviso vocês, por enquanto fiquem com um trechinho de "Amor, Maybe":

"Não, eu não negarei. Não negarei que a poeta estava morta, sem vida e apática, escondida em sua concha por medo de sofrer. Não direi que não neguei o dom, repeli-o sim e muitas vezes, por raiva das palavras que um dia tão docemente dediquei a você e descobri-as nas mãos insolentes de minha rival. Mas há coisas nessa vida que não podemos controlar, geralmente essas são as coisas que trazemos dentro de nós como a compaixão, a caridade ou a melancolia e não consegui manter fechada minha alma, pois meu coração não suporta se aprisionar. Descobri então que não foram as palvavras que me trairam, mas eu mesma, por ter tão facilmente despejado meus dons em tuas mãos ingratas."

22 julho 2010

NOVOS HORIZONTES

Depois de uma semana maravilhosa em Antonina-PR no Festival de Inverno da UFPR, ministrando uma oficina de atividades recreativas e culturais para os idosos do Patronato do Idoso de Antonina (PIA) com minha amiga Mariana, recebi hoje um convite para ministrar uma capacitação para professores de educação física em Passo Fundo-RS.

Estou muito feliz com as oportunidades que estão surgindo graças ao meu livro:
"Atividade Física para Idosos: Apotamentos Teóricos e Propostas de Atividades".

Quer comprar um também? tem no mercado livre, livrarias cultura, nilobook, etc...



Garanto que você não vai se arrepender!

Abraços! :D

10 maio 2010

MAIS UMA VITÓRIA


HAHAHAHA, MAS EU TÔ RINDO À TOA!

ACABEI DE RECEBER UMA NOTÍCIA MARAVILHOSA. MINHA AMADA AMIGA MARIANA E EU FOMOS SELECIONADAS PARA DAR UMA OFICINA NO FESTIVAL DE INVERNO DA UFPR EM ANTONINA-PR.

O FESTIVAL ESTA COMPLETANDO 2O ANOS E É ORGANIZADO PELA UFPR. TODOS OS ANOS NO MÊS DE JULHO ACADÊMICOS, PROFISSIONAIS, ARTISTAS E A POPULAÇÃO EM GERAL TEM ENCONTRO MARCADO EM ANTONINA, QUE TORNA-SE UM CENTRO DE CULTURA E DIVERSÃO.

JÁ ESTIVE LÁ MUITAS VEZES COMO VISITANTE E ADMIRADORA, MAS NESTE ANO TEREI A ALEGRIA DE IR COMO MINISTRANTE DE OFICINA! ESTOU MUITO FELIZ.

CONVIDO A TODOS À FICAREM LIGADOS E APROVEITAREM AS DIVERSAS OFICINAS QUE OCORRERÃO NO FESTIVAL ENTRE OS DIAS 10 E 17 DE JULHO. COM CERTEZA ALGUMA LHE INTERESSARÁ!

http://www.proec.ufpr.br/festival2010/index.htm

BEIJOS E QUE VENHA JULHO!!!

:)

MERCADO EDITORIAL

BOM DIA MEUS AMIGOS!

Sendo esse blog destinado a compartilhar reflexões, informações e tudo mais que se refira a literatura, me sinto muito feliz de poder divulgar aqui hoje um livro de um amigo meu. Não nos conhecemos, mas digo que ele é meu amigo pois seu livro muito me ajudou e ajuda a trilhar os caminhos para a realização de um sonho: publicar o meu próprio livro!

Estou falando do livro "MERCADO EDITORIAL: GUIA PARA AUTORES" de Andrey do Amaral (http://www.andreydoamaral.com/) que mostra o passo a passo para ter sucesso com uma editora comercial.

Digo por experiência própria que este livro me ajudou a evitar muitos erros básicos e também a poupar tempo na busca das editoras certas para as quais enviar meu material.

Andrey é um grande conhecedor da língua portuguesa e do mercado editorial. Estou tendo a oportunidade de trabalhar um dos meus livros com ele e recomendo muito!

Abraços!

04 maio 2010

RILKE, CARTA 10 - A ÚLTIMA

Olá Pessoal!

Estamos chegando ao fim de nossa caminhada pelas cartas do grande escritor Rainer Maria Rilke, espero que todos tenham se deleitado com sua sabedoria e meditado seus conselhos dados ao jovem Kappus, mas que muito servem para nós também.

Para terminar, o último trecho da última carta, datada de 1908.

"Também a arte é apenas um modo de viver, e é possível se preparar para ela sem saber, vivendo de uma maneira ou de outra. Em tudo o que é real há mais proximidade dela do que nas falsas profissões semi-artísticas que, ao simular uma proximidade da arte, na prática negam e atacam a existência de qualquer arte. Por exemplo, todo o jornalismo faz isso, assim como quase toda a crítica e três quartos do que se chama e pretende ser chamado de literatura. Alegra-me, em suma, que o senhor tenha superado o perigo de cair nessa armadilha e se encontre em meio a uma realidade bruta, solitário e corajoso. Espero que o próximo ano o mantenha assim e o fortaleça.

Sempre seu,

Rainer Maria Rilke"


Um grande abraço a todos os escritores!

30 abril 2010

RILKE, CARTA 9

BOM PESSOAL, ESTAMOS QUASE NO FIM DAS 1O CARTAS QUE O GRANDE ESCRITOR RAINER MARIA RILKE ESCREVEU AO JOVEM FRANZ KAPPUS, ESPERO QUE VOCÊ ESTEJAM APROVEITANDO ESSA IMENSA FONTE DE DELEITE E APRENDIZADO QUE SÃO ESSAS CARTAS DA MESMA FORMA QUE EU APROVEITO.

ESSA É A CARTA NÚMERO 9 DATADA DE 04 DE NOVEMBRO DE 1904, ATUALÍSSIMA, COMO TUDO QUE RILKE ESCREVEU.

"É sempre o que eu já disse, sempre o desejo de que o senhor descubra em si mesmo paciência o bastante para suportar e simplicidade o bastante para acreditar. Que o senhor ganhe mais e mais confiança para aquilo que é difícil, para a sua solidão em meio aos outros. De resto, deixe a vida acontecer. Acredite em mim: a vida tem razão, em todos os casos."

"Sua tendência para a dúvida pode se tornar uma boa qualidade se o senhor a educar. Ela precisa se tornar um saber, precisa se tornar crítica. Pergunte a ela, a cada vez que quiser estragar algo seu, por que algo é feio, exija provas dela, teste-a, e o senhor talvez a deixe indecisa e confusa, talvez revoltada. Mas não desista, reivindique argumentos e aja assim, de modo atento e coerente, a cada vez. Dessa maneira chegará o dia em que sua dúvida se converterá de uma distribuidora em sua melhor colaboradora - talvez a mais esperta no meio de tudo aquilo que trabalha na construção de sua vida".

17 abril 2010

RILKE, CARTA 8

Carta 8, datada de 12 de agosto de 1904, de Rilke para Kappus.

"Se nos fosse possível ver além do alcance do nosso saber, e ainda um pouco além da obra preparatória do nosso pressentimento, talvez suportássemos as nossas tristezas com mais confiança do que nossas alegrias. Pois elas são os instantes em que algo de novo penetrou em nós, algo conhecido; nossos sentimentos se calam em um acanhamento tímido, tudo em nós recua, surge uma quietude, e o novo, que ninguém conhece, é encontrado bem ali no meio, em silêncio.

Acredito que quase todas as nossas tristezas são momentos de tensão, que sentimos como uma paralisia porque não ouvimos ecoar a vida dos nossos sentimentos que se tornam estranhos para nós. Isso porque estamos no meio de uma transição, em um ponto no qual não podemos permanecer. (...)

Não somos capazes de dizer quem chegou, talvez nunca chegamos a saber, mas vários sinais indicam que o futuro entra em nós dessa maneira, para se transformar em nós muito antes de acontecer. Por isso é tão importante estar sozinho e atento quando se está triste: porque o instante aparentemente parado, sem nenhum acontecimento, no qual o nosso futuro entra em nós, está bem mais próximo da vida do que acontece como que vindo de fora. (...)

É necessário que isso ocorra. É necessário - e dessa maneira se dá aos poucos nossa evolução. (...)

No fundo é esta a única coragem que se exige em nós: sermos corajosos diante do que é estranho, mais maravilhoso e mais inexplicável entre tudo com que nos deparamos. (...)

É preciso ter paciência como um doente e ter confiança como um convalescente, pois talvez o senhor seja ambas as coisas. Mais ainda: o senhor também é o médico que tem de tratar de si mesmo. Mas em toda doença há muitos dias em que o médico não pode fazer nada além de esperar. E é isso, mais do que qualquer coisa, que o senhor, por ser seu próprio médico, precisa fazer agora. Não se observe demais. Não tire conclusões demasiado apressadas daquilo que lhe acontece; deixe simplesmente as coisas acontecerem. (...)

Se ainda posso acrescentar algo, é o seguinte: não acredite que quem procura consolá-lo vive seme sforço, em meio às palavras simples e tranquilas que às vezes lhe fazem bem. A vida dele tem muita labuta e muita tristeza e permanece muito atrás dessas coisas. Se fosse de outra maneira, nunca teria encontrado aquelas palavras."

12 abril 2010

RILKE, CARTA 7

Na 7ª carta, datada de 14 de maio de 1904, Rilke salienta para Kappus a necessidade da solidão e do amor para o auto-conhecimento e amadurecimento do artista/pessoa humana.

"Não se deixe enganar por sua solidão só porque há algo no senhor que deseja sair dela. Justamente esse desejo o ajudará, caso o senhor o utilize com calma e ponderação, como um instrumento para estender sua solidão por um território mais vasto. As pessoas (com o auxilio das convenções) resolveram tudo da maneira mais fácil e pelo lado mais fácil da facilidade; contudo é evidente que precisamos nos aferrar ao que é difícil; tudo o que vive se aferra ao difícil, tudo na vida cresce e se defende a seu modo e se constitui em algo próprio a partir de si, procurando existir a qualquer preço e contra toda resitência. Sabemos muito pouco, mas que temos de nos aferrar ao difícil é uma certeza que não nos abandonará. É bom ser solitário, pois a solidão é difícil; o fato de uma coisa ser difícil tem de ser mais um motivo para fazê-la.Amar também é bom: pois o amor é difícil. Ter amor, de uma pessoa por outra, talvez seja a coisa mais difícil que nos foi dada, a mais extrema, a derradeira prova e provação, o trabalho para o qual qualquer outro trabalho é apenas uma preparação. Por isso as pessoas jovens, iniciantes em tudo, ainda não podem amar: precisam aprender o amor. Com todo o seu ser, com todas as forças reunidas em seu coração solitário, receoso e acelerado, os jovens precisam aprender a amar. Mas o tempo de aprendizado é sempre um longo período de exclusão, de modo que o amor é por muito tempo, ao longo da vida, isolamento intenso e profundo para quem ama. A princípio o amor não é nada do que se chama ser absorvido, entregar-se e se unir com outra pessoa. (Pois o que seria uma união do que não é esclarecido, do inacabado, do desordenado?) O amor constitui uma oportunidade sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo, tornar-se um mundo, tornar-se um mundo para si mesmo por causa de uma outra pessoa; é uma grande exigência para o indivíduo, uma exigência irrestrita, algo que o destaca e o convoca para longe. Apenas neste sentido, como tarefa de trabalhar em si mesmos ("escutar e bater dia e noite"), as pessoas jovens deveriam fazer uso do amor que lhes é dado. A absorção e a entrega e todo tipo de comunhão não são para eles (que ainda precisam economizar e acumular por muito tempo); a comunhão é o passo final, talvez uma meta para a qual a vida humana quase não seja o bastante. É aí que os jovens erram com frequência, gravemente: pelo fato de eles (faz parte de sua natureza não ter paciência alguma) se atirarem uns para os outros quando o amor vem, derramando-se da maneira como são, em todo o seu dsgoverno, na desordem, na confusão(...) De fato muitos jovens que amam de modo falso, ou seja, simplesmente entregando-se, sem preservar a solidão (a maioria nunca passará disso), sentem a opressão de um erro e querem, de uma maneira própria e pessoal, tornr vívida e fértil a situação em que se precipitaram.
(...) Quem observa com seriedade descobre que, assim como para a morte, que é difícil, também para o difícil amor não se reconheceu ainda nenhum esclarecimento, nenhuma solução, nem aceno, nem caminho. Para essas duas tarefas, que carregamos e transmitimos secretamente sem esclarecer, nunca se achará uma regra comum baseada em um acordo. Contudo, à medida que começamos a tentar ver a vida como indivíduos, essas grandes coisas se aproximam muito de nós, os solitários. As exigências que o difícil trabalho do amor impõe ao nosso desenvolvimento são sobre-humanas, e nós, como iniciantes, não podemos estar à altura delas. Mas se perseveramos e assumimos esse amor como uma carga e uma período de aprendizado, em vez de nos perdermos em todo o jogo fácil e frívolo atrás do qual as pessoas se esconderam da mais séria gravidade de sua existência, talvez se perceba um pequeno avanço e um alívio para aqueles que virão muito depois de nós; e isso já seria muito.
(...) E esse amor mais humano (que se reaizará de modo infinitamente delicado e discreto, certo e claro, em laços atados e desatados) será semelhante àquele que nós preparamos, lutando co esforço, portanto ao amor que consiste na proteção mútua, na delimitação e saudação de duas solidões. E ainda isto: não creia que aquele grande amor que um dia se impôs ao senhor, quando garoto, perdeu-se. Será possível saber com ceteza se, naquele tempo, não amadureceram grandes e belos desjos, propósitos dos quais o senhor vive ainda hoje? Acredito que aquele amor permanece tão forte e intenso na sua lembrança poruqe foi sua primeira solidão profunda, o primeiro trabalho íntimo com que o senhor elaborou sua vida."

04 abril 2010

RILKE, CARTAS 5 E 6

Na carta 5 de 29 de outubro de 1903, Rilke apenas descreve sua mudança para a cidade de Roma e se compromente a escrever outra carta maior ao seu amigo, por isso vamos direto para a carta 6, mais uma das cartas do grande poeta para nossa apreciação. Data: 23 de dezembro de 1903, e continua sendo atual para nós...

"Existe apenas uma solidão, e ela é grande, nada fácil de suportar. Acabam chegando horas em que quase todos gostariam de trocá-la por uma união qualquer, por mais banal e sem valor que seja, trocá-la pela aparência de uma mínima concordância com o próximo, mesmo que com a pessoa mais indigna... No entanto, talvez sejam justamente essas as horas em que a solidão cresce, pois o seu crescimento é doloroso como o de um menino e triste como o início da primavera. Mas isso não deve confundí-lo, O que é necessário é apenas o seguinte: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo e não encontrar ninguém durante horas, é preciso conseguir isso. Ser solitário como era quando criança, quando os adultos passavam pra lá e pra cá, em coisas que pareciam importantes e grandiosas, porque esses adultos davam a impressão de estarem ocupados e porque a criança não entendia nada de seus afazeres. E, um dia percebem que suas ocupações são mesquinhas, que suas profissões são enrijecidas e não estão mais ligadas à vida(...)"

01 abril 2010

RILKE, CARTA 4

Ao longo dos últimos dias tenho postado aqui as cartas de Rilke para o jovem poeta Franz Kappus, extraídas do livro: "Cartas a um jovem poeta" de Rilke, espero que as reflexões contidas nestas cartas possam ajudar a todos nós em nosso amadurecimento na arte de escrever.

Hoje selecionei alguns trechos da 4° carta, datada de 16 de julho de 1903.

(...) "A idéia de ser um criador, de gerar, de formar não é nada sem a sua contínua e grandiosa confirmação e realização no mundo, nada sem o consenso mil vezes repetido por parte das coisas e dos animais. E só por isso o seu gozo é tão indiscritivelmente belo e rico, porque é feito das recordações herdadas da geração e da gestação de milhões de seres. Em um pensamento criador revivem milhares de noites de amor esquecidas que o preenchem com altivez e elevação. Assim, aqueles que se juntam durante as noites e se entrelaçam em uma volúpia agitada fazem um trabaho sério, reúnem doçuras, profundidade e força para a acanção de algum poeta vindouro que surgirá para expressar deleites indizíveis. Eles convocam o futuro; mesmo que errem e se abracem cegamente, o futuro virá apesar de tudo, um novo homem se elevará, e a partir do acaso que parece se realizar aqui desponta a lei pela qual um germe forte e resistente se lança em direção ao óvulo, que vem receptivo a seu encontro." (...)

(...) "Alegre-se com seu crescimento, para o qual não pode levar ninguém junto, e seja bondoso com aqueles que ficam para trás, seja seguro e tranquilo diante deles, sem preturbá-los com suas dúvidas nem assustá-los com uma confiança ou alegria que eles não poderiam compreender. Procure constituir com eles algum tipo de comunhão simples e fiel, que não precise ser alterada à medida que o senhor mesmo se modifica cada vez mais." (...)

30 março 2010

RILKE, CARTA 3

Na terceira carta de Rilke para Franz Kappus em 23 de abril de 1903, o autor fala da solidão das obras de arte e da paciência que o artista precisa para vê-la amadurecer.

(...)"Obras de arte são de uma solidão infinta, e nada pode passar tão longe de alcançá-las quanto a crítica. Apenas o amor pode compreendê-las, conservá-las e ser justo em relação à elas. Dê razão sempre a si mesmo e a seu sentimento, diante de qualquer discussão, debate e introdução; se o senhor estiver errado, o crescimento natural de sua vida íntima o levará lentamente, com o tempo, a outros conhecimentos. Permita suas avaliações seguir o desenvolvimento próprio, tranquilo e sem perturbação, algo que, como todo avanço, precisa vir de dentro e não pode ser forçado nem apressado por nada. Tudo está em deixar amadurecer e então dar à luz. Deixar cada impressão, cada semente de um sentimento germinar por completo dentro de si, na escuridão do indizível e do inconsciente, em um ponto inalcançável para o próprio entendimento, e esperar com profunda humildade e paciência a hora do nascimento de uma nova clareza: só isso se chama viver artisticamente, tanto na compreensão quanto na criação.
Não há nenhuma medida de tempo nesse caso, um ano nada vale, e mesmo dez anos não são nada. Ser artista significa: não calcular nem contar; amadurecer como uma árvore que não apressa a sua seiva e permanece confiante durante as tempestades da primavera, sem o temos de que o verão possa vir depois. Ela vem apesar de tudo. Mas só chega para os pacientes, para os que estão ali como se a eternidade se encontrasse diante deles, com toda a amplidão e a serenidade, sem preocupação alguma. Aprendo isto diariamente, aprendo em meio a dores às quais sou grato: a paciência é tudo!" (...)

26 março 2010

RILKE, CARTA 2

A segunda carta de Rilke para o jovem Franz Kappus data de 05 de abril de 1903 e é muito breve, por conta do estado de saúde do remetente. Fala sobre a ironia.

(...)"Hoje eu dizer queria apenas duas coisas ao senhor. Primeiro, quanto à ironia.
Não se deixe dominar por ela, principalmente em momentos sem criatividade. Nos momentos criativos, procure fazer uso dela como de mais um meio para abarcar a vida. Usada com pureza, ela também é pura, e não é preciso envergonhar-se dela. Caso a intimidade seja excessiva, caso o senhor tema essa crescente intimidade com a ironia, volte-se para assuntos grandes e sérios, diante dos quais ela se torna pequena e desamparada. Procure o fundo das coisas: ali a ironia nunca chega. Assim, se o senhor seguir seu caminho à beira do que é grandioso, pergunte-se também se esse modo de compreender o mundo corresponde a uma necessidade de seu ser. Pois, sob a influência de coisas sérias, ou a ironia o abandonará (se ela for algo ocasional), ou então ela ganhará força (se lhe pertencer como algo inato) e se converterá em uma ferramenta séria, assumindo seu lugar no encadeamento dos recursos com os quais o senhor terá de construir sua arte." (...)

19 março 2010

RILKE, CARTAS A UM JOVEM POETA

Rainer Maria Rilke (1875-1926) foi um grande poeta nascido em Praga, sendo um dos autores alemães mais conhecidos no Brasil e tendo influenciado muitas gerações de poetas. Teve excelentes traduções de seus textos feitos por alguns dos maiores nomes da poesia brasileira, entre eles, Manuel Bandeira (Torso Arcaico de Apolo) e Cecília Meireles (A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristovão Rilke).

No livro, Cartas a um jovem poeta, destinadas originalmente à Franz Xaver Kappus, Rilke mostra toda sua genialidade dando conselhos ao jovem que aspirava ser poeta.

São dez cartas abordando temas como a crítica, necessidade de criar, auto-conhecimento, solidão, amor, paciência, pobreza, sexo, amadurecimento, arte, etc.

Hoje falarei da primeira carta, escrita em Paris no dia 17 de fevereiro de 1903, onde Rilke fala sobre a crítica e o auto-conhecimento.

"(...)Não posso entrar em considerações sobre a forma dos seus versos; pois me afasto de qualquer intenção crítica. Não há nada que toque menos uma obra de arte do que as palavras de crítica: elas não passam de mal entendidos mais ou menos afortunados. As coisas em geral não são tão fáceis de apreender e dizer como normalmente nos querem levar a acreditar; a maioria dos acontecimentos é indizível, realiza-se em um espaço que nunca uma palavra penetrou, e mais indizíveis do que todos os acontecimentos são as obras de arte, existências misteriosas , cuja vida perdura ao lado da nossa, que passa.

(...)

O senhor me pergunta se os seus versos são bons. Pergunta isso a mim. Já perguntou a mesma coisa a outras pessoas antes. Envia os seus versos para revistas. Faz comparações entre eles e outros poemas e se inquieta quando um ou outro redator recusa suas tentativas de publicação. Agora (como me deu licença de aconselhá-lo) lhe peço para desistir de tudo isso. O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não deveria fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas uma meio. Volte-se para si mesmo.

(...)

E se, desse ato de se voltar para dentro de si, desse aprofundamento em seu próprio mundo, resultarem versos, o senhor não pensará em perguntar a alguém se são bons versos. Também não tentará despertar o interesse de revistas por tais trabalhos, pois verá neles seu querido patrimônio natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando surge de uma necessidade. É no modo como ela se origina que se encontra o seu valor, não há nenhum outro critério."

17 março 2010

MAIS DICAS DO TOSCANA

Como vocês podem ver, o livro do David Toscana "O Último Leitor" é uma fonte riquíssima de dicas literárias, hoje vou postar mais um pouquinho, mas quem puder ler o livro na íntegra eu recomendo muito que o faça.


Pg 89, Lucio revoltado:
"A mulher se aproxima de Lucio. Você não parece muito contente. Ele senta no chão e esfrega as mãos na areia. Todos buscam o final feliz, o rosto sorridente, romper com o destino natural, evitar a tragédia; perseguem coisas banais e insossas, leves e afeminadas: recusam-se a fazer literatura."

pg 101, conhecendo um bom romance: "Lucio decide ler o último parágrafo porque sabe que um bom final é sinal de um bom romance. Com os começos não acontece a mesma coisa."

pg 105, pleonasmos: "... para que você diz pequenas gotículas se a gotícula já é pequena sem o adjetivo?"

pg 109, sobre analogias (e sobrou até pra Bíblia, hehehe): "Em seguida o anjo me mostrou um rio de água de vida, claro como cristal, Claro como cristal? questiona Lucio, não conheço analogia mais medíocre, talvez a de alguns narradores nórdicos que falam de rostos brancos como a neve sem pensar no povo do deserto que jamais viu nevar. (...) Em que pese receio pelas analogias, Lucio quase nunca condena um livro ao inferno por mais ordinários que sejam, nem mesmo quando, em vez de precisar, desorientam o leitor: sentiu-se como se o mundo desabasse sobre sua cabeça, como o último homem da terra, idéias incabíveis para Lucio, palavras vazias mas toleráveis".

pg 110, "só entregava o romance imediatamente para as baratas, sem se importar com o quanto estivesse lhe parecendo atraente, quando o autor recorria ao cinema para se fazer entender. Duas semanas atrás condenou um romance por esse motivo: Ao pegá-la pela mão, James sorriu como Peter O'Donohue em O Vale das Gaivotas, que Mary Anne tinha visto pelo menos dez vezes na enorme tela do cinema da rua oito. E como vou imaginar esse sorriso?, exclamou Lucio, que há anos não entrava numa sala de cinema. (...) Despreza o cinema, mas sua aversão por esses autores se baseia em outra coisa. Não merecem ser chamados de escritores, pensa, se em vez de se darem ao trabalho de descrever um sorriso, um penteado, um olhar, uma atitude, preferem me mandar ver um filme".

Espero que as dicas tenham sido tão úteis como foram para mim!

Abraços!

15 março 2010

MAIS DICAS DO "ÚLTIMO LEITOR"

Como eu já disse no post anterior, o livro "O Último Leitor" de David Toscana traz várias dicas sobre o que é bom ou não nos livros. Já vimos alguns exemplos, hoje vamos ver mais alguns:

Na pg 41 ele critica o excesso de adjetivos: "Santín mata o menino com uma facada; fala da cara de horror do menino, dos seus olhos abertos como pratos; narra as cenas de violência como os escritores costumam fazer: mencionam o sangue e o horror, mas não se notam nem uma coisa nem outra, por isso incham suas descrições com adjetivos. Lucio levanta a voz; fala como se estivesse diante de uma multidão. Onde os escritores aprendem a matar e morrer? No cinema, onde ninguém morre como a gente morre?"

Na pg 50 o ultimo leitor critica o "apelo ao consumismo": "Além disso, sente-se à vontade com os autores mortos porque descrevem os objetos sem apelar para o consumismo do leitor. A frase Antes de sair, Robert colocou um Giorgio Belli, o preto, o preferido de Emily foi suficiente para que Lucio descartasse "Espelhos de Vida", sem esperar para verificar se Robert tinha posto um paletó ou um chapéu. Acha que um romance se suja menos quando o leitor come em cima dele do que quando o autor menciona a marca da calça de um personagem, ou do seu perfume, ou dos óculos ou gravata ou do vinho francês que bebe em tal ou qual restaurante; os romances ficam manchados com a simples menção de um cartão de crédito, de um automóvel ou da televisão."

Nas pgs 68 e 69 mais algumas colocações: "Do que você está falando?, perguntou Remigio. Lucio olha para ele com desagrado. Destesta este do que você está falando?, um recurso desgastado de alguns autores para criar um diálogo no qual seria melhor respeitar o silêncio, deixar as coisas subentendidas. Não sei do que você está falando, diz Perkins, e o inspetor Fitzpatrick precisa contar como descobriu o culpado, num inventário de rastros, pistas e contradições que não são para Perkins, mas para o leitor."

"Desde que Folsom morreu, o gringos deram para escrever melodramas sobre pais egoístasou viciados ou cheios de manias e filhos que sofrem as consequências. Toda uma geração de escritores dedicada a denegrir seus pais."


E, para descontrair um pouco e terminar as dicas de hoje, pg 87: "Eu acabo de me desfazer de "O outono em Madri", diz Lucio, estava na página sessenta e três; ficaram duzentas e oito sem ler. Eu não passei da vinte diz ela. Para que um tédio desse chegue a Icamole se requer a cumplicidade de autor, corretores, editores, impressores, livreiros e até de leitores; isso sem contar a parceira do autor, que lhe diz sim, meu amor, você escreve muito bem, sim. Delinquência organizada, diz ele."

Abraços e até mais!!!

11 março 2010

DICAS EXTRAÍDAS DO LIVRO O ULTIMO LEITOR

Como eu já disse ontem, o livro "O Último Leitor" de David Toscana, nos traz muitas reflexões sobre a maneira de escrever um romance. Nele o persongagem principal, Lucio, dá dicas do que gosta e do que não gosta nos livros que leu.

Logo nas pgs 11 e 12 ele faz sua primeira crítica ao romance fictício entitulado: "As cores do Céu" de Brian MacAllister

(...) " Sabe o que o espera, traste dos infernos? O negro negou com a cabeça embora sua expressão de horror revelasse que sabia muito bem o que o esperava. Os dois o levaram à barreira e o fizeram ver com terror as àguas que Murdoch acabava de observar com prazer. O negro parou de lutar. Preferia acabar com tudo de uma vez por todas a continuar aguentando a humilhação de ser arrastado como um cachorro, desviando-se das fezes dos cavalos, ouvindo conversas de bêbados. Você quer dizer alguma coisa antes de enfrentar seu destino?, perguntou Murdoch. O negro disse que sim e, tentando fazer com que sua voz não tremesse, falou: Há um Deus que não diferecia as cores da pele, que ama igualmente negros e brancos... Lucio bufa e fecha abruptamente o livro. Duzentas páginas para que esse negro venha dar lição de moral feito uma freira."

em seguida faz mais algumas colocações sobre a superficialidade de algumas expressões como "horror":

(...) "Uma mulher passa com meio quilo de tortilhas, e Lucio fica com água na boca. Ela o cumprimenta com um sorriso sem palavras; ele responde que MacAllister é um incompetente, e agora em voz baixa, só para si, continua: Olhe que mencionar a expressão de horror do negro e não se aprofundar nisso... devia ter dito como tremiam seus lábios vermelhos e grossos e rachados com fios de baba, ou pelo menos como a lua brilhava no branco dos seus olhos. A palavra horror é uma ilusão do escritor, pretende criar uma tensão inexistente, porque é obvio que o negro não vai morrer, tudo é tão óbvio (...)

Na pg 14 Lucio dá mais algumas dicas sobre o uso de nomes estrangeiros nos livros:

"Abre um livro e começa a ler. Tomou cuidado para que fosse um romance recente, pois estes não se preocupam mais em escrever os detalhes de um prato (...) no dia anterior já tinha descartado um romance desses. O narrador se sentava à mesa e dizia: Sara escolheu uma explêndida garrafa de Château Certan-Marzelle 98 para acompanhar a salada périgourdine, a cocotte de porc à l'ananas e o brie de Coulommiers, e como sobre mesa mandou que fossem servidos crêpes aux moules preparados com um magnífico vin de paille. Essas linhas e a descrição que seguia sobre mais quitutes e garrafas e vocábulos em itálico não provocaram a menor reação no seu estômago. Para mim, com esses nomes estrangeiros, dá na mesma se estão falando de comida ou de peças de reposição para uma máquina; as garrafas poderiam ser de óleo e talvez cocotte fosse uma engrenagem. Censurou o romance na página trinta e nove."

Na página 19 continua:

"Para não parecer muito ansioso, Lucio abre de novo "O Outono em Madri" e passa, por uns segundos, os olhos pelas frases. Natália, minha Natália, eu lhe disse umas cem vezes que a cidade é uma vitrine na qual se exibem minhas tristezas, minha falta de você, minha incapacidade de perceber qualquer beleza que não venha do seu rosto. Para mim basta dizer uma vez só, diz Lucio e tira da gaveta o carimbo de censurado.

Por outro lado, na pg 24 ele elogia o final do livro "A morte de Babette" que termina com essa frase: "Sinetas, gritos e sinos; gritos dentro e gritos fora e mais sinos, pobre Babette, pobre de você, sinos e mais sinos, um país que acredita que é livre, uma menina que não acredita em nada. Uma história não pode terminar assim, protesta Remigio. Claro que pode, e não há dúvida sobre o final. Pierre Laffitte já diz isso no título, então evita repeti-lo na trama."

E também na pg 27 fala do livro "Os peixes da terra" no qual ele finalmente encontra algo que lhe é familiar, algo que condiz com sua realidade, (...) "não ficou seduzido pela trama sobra Fritz e Petra, um casal que visita vários lugares em busca de um local para viver (...), no entanto, quando estava prestes a abandonar a leitura, o casal chegou a um lugar que Lucio teve certeza que era Icamole." (cidade onde ele morava)

Para finalizar o post de hoje o comentário muito pertinente da pg 33, quando Lucio está falando do romance "A macieira": "E pensar que estive a ponto de censurar esse romance, diz Lucio, só se salvou porque o pênis do protagonista é curto, e isso me parece insólito; em geral os escritores querem se ver em seus personagens e falam em enormes membros e amantes perfeitos e ereções monstruosas."

Amanhã mais dicas com esse ótimo livro do David Toscana!

Abraços!

10 março 2010

O ÚLTIMO LEITOR



Na Oficina de Narrativas Longas que estou fazendo com o Paulo Sandrini, estamos estudando o livro "O Último Leitor" de David Toscana.

O livro é ótimo tanto para quem quer apenas uma boa distração, como para quem deseja aprender um pouco mais sobre o ato da escrita, visto que o persongem principal do livro dá várias dicas de coisas boas e ruins nos livros que ele já leu. Para escritores iniciantes como eu, é muito interessante perceber as críticas que ele faz para não cometer esses mesmos erros!

Amanhã mais detalhes sobre esse livro! Aconselho a todos que leiam!

Abraços.

09 março 2010

DICAS PARA CURITIBANOS

Além das oficinas de criação literária que estão acontecendo na cidade de Curitiba-PR, com inscrições até 12/03 pela Fundação Cultural de Curitiba, no Palacete Wolf também acontecerão durante todo o ano, ciclos especiais de leitura. Quem gosta de literatura e pretende aprender mais sobre as grandes obras deve aproveitar a oportunidade!

Para conhecer as oficinas, ciclos e demais atividades, pode-se verificar o site da FCC: www.fccdigital.com.br

O endereço do Palacete Wolf é: Praça Garibaldi 7 Centro fone: 3321-3309

05 março 2010

ETAPAS DA JORNADA (12)

Texto extraído do Livro "A Jornada do Escritor" de Christopher Vogler.

12. Retorno com o Elixir

O herói retorna ao Mundo Comum, mas a jornada não tem sentido se ele não trouxer de volta um Elixir, tesouro ou lição do Mundo Especial. O Elixir é uma poção mágica com o poder de curar. Pode ser um grande tesouro, como o Graal, que, magicamente, cura a terra ferida, ou pode, simplesmente, ser um conhecimento ou experiência que algum dia poderá ser útil à comunidade.
Dorothy volta ao Kansas com a certeza de que é amada e de que "Não há lugar melhor que o nosso lar". E.T. volta para casa com a experiência da amizade com os humanos. Luke Skywalker derrota Darth Vader (por enquanto) e restaura a paz e a ordem na galáxia.
Zack Mayo ganha sua patente e deixa o Mundo Especial da base de treinamento com uma nova perspectiva. Em seu uniforme de oficial novo em folha (e uma nova atitude que combina com ele), ele literalmente arrebata a namorada e a carrega consigo.
Algumas vezes, o Elixir é o tesouro conquistado na busca, mas pode ser o amor, a liberdade, a sabedoria, ou o conhecimento de que o Mundo Especial existe, mas se pode sobreviver a ele. Outras vezes, o Elixir é apenas uma volta para casa, com uma boa história para contar.
A não ser que conquiste alguma coisa na provação que enfrenta na Caverna Oculta, o herói está fadado a repetir a aventura. Muitas comédias usam esse final, quando um personagem tolo se recusa a aprender sua lição e embarca na mesma bobagem que o meteu em trapalhadas da outra vez.

Para recapitular a Jornada do Herói:

1. Os heróis são apresentados no mundo comum, onde
2. recebem um chamado à aventura.
3. Primeiro, ficam relutantes ou recusam o chamado, mas
4. num Encontro com o mentor são encorajados a fazer a
5. travessia do primeiro limiar e entrar no Mundo Especial, onde
6. encontram testes, aliados e inimigos.
7. Na aproximação da caverna oculta, cruzam um Segundo Limiar,
8. onde enfrentam a provação.
9. Ganham sua recompensa e
10. são perseguidos no caminho de volta ao Mundo Comum.
11. Cruzam então o Terceiro Limiar, experimentam uma ressurreição e são transformados pela experiência.
12. Chega então o momento do retorno com o elixir, a bênção ou o tesouro que beneficia o Mundo Comum.

A Jornada do Herói é uma armação, um esqueleto, que deve ser preenchido com os detalhes e surpresas de cada história individual. A estrutura não deve chamar a atenção, nem deve ser seguida com rigidez demais. A ordem dos estágios que citamos aqui é apenas uma das variações possíveis. Alguns podem ser eliminados, outros podem ser acrescentados. Podem ser embaralhados. Nada disso faz com que percam seu poder.

04 março 2010

ETAPAS DA JORNADA (11)

Texto extraído do Livro "A Jornada do Escritor" de Christopher Vogler.

11. Ressurreição

Antigamente, os caçadores e guerreiros tinham que se purificar antes de voltar a suas comunidades, porque tinham sangue nas mãos. O herói que esteve no reino dos mortos deve renascer e se depurar, em uma última Provação de morte e Ressurreição, antes de voltar ao Mundo Comum dos vivos.
Muitas vezes, este é um segundo momento de vida-ou-morte, quase uma repetição da morte e renascimento da Provação. A morte e a escuridão fazem um último esforço desesperado, antes de serem finalmente derrotadas. É uma espécie de exame final do herói, que deve ser posto à prova, ainda uma vez, para ver se realmente aprendeu as lições da Provação.
O herói se transforma, graças a esses momentos de morte-e-renascimento, e assim pode voltar à vida comum como um novo ser, com um novo entendimento.
Os filmes da série Guerra nas estrelas brincam o tempo todo com esse elemento. Os três filmes da série mostram uma cena final de batalha, em que Luke quase morre, parece estar morto por um momento, e depois sobrevive miraculosamente. Cada nova provação lhe dá mais conhecimento e mais domínio da Força. Sua experiência o transforma em um novo ser.
Axel Foley, na seqüência do clímax de Um tira da pesada, torna a enfrentar a morte nas mãos do vilão, mas é salvo pela intervenção da força policial de Beverly Hills. Emerge da experiência com maior respeito pela corporação, e se torna um ser humano mais completo.
A força do destino oferece uma série mais complexa de testes finais, e o herói enfrenta a morte de variadas maneiras. O egoísmo de Zach morre quando ele desiste da oportunidade de ganhar um troféu atlético pessoal, em favor de ajudar outro cadete a vencer um obstáculo. Sua relação com a namorada parece ter morrido, e ele tem que sobreviver ao golpe esmagador do suicídio do seu melhor amigo. E, como se não bastasse, ainda tem que travar uma batalha final, cara a cara, de vida ou morte, com o instrutor. Mas sobrevive a tudo, e se transforma no galante "oficial e cavalheiro" de que fala o título em inglês.

03 março 2010

ETAPAS DA JORNADA (10)

Texto extraído do Livro "A Jornada do Escritor" de Christopher Vogler.

10. Caminho de Volta

Mas o herói ainda não saiu do bosque. Estamos passando agora para o terceiro ato, no qual ele começa a lidar com as conseqüências de ter-se confrontado com as forças obscuras da Provação. Se ainda não conseguiu se reconciliar com os pais, os deuses, ou as forças hostis, estes podem vir furiosos ao seu encalço. Algumas das melhores cenas de perseguição surgem nesse ponto, quando o herói é perseguido no Caminho de Volta pelas forças vingadoras que ele perturbou ao apanhar a espada, o elixir ou o tesouro.
Assim, Luke e Leia são furiosamente perseguidos por Darth Vader quando escapam da Estrela da Morte. O Caminho de Volta em E.T. é o vôo de bicicleta ao luar, quando fogem de Keys (Peter Coyote), que representa a autoridade governamental repressiva.
Essa fase marca a decisão de voltar ao Mundo Comum. O herói compreende que, em algum momento, vai ter que deixar para trás o Mundo Especial, e que ainda há perigos, tentações e testes à sua frente.

02 março 2010

ETAPAS DA JORNADA (9)

Texto extraído do Livro "A Jornada do Escritor" de Christopher Vogler.

9. Recompensa (Apanhando a Espada)

Após sobreviver à morte, derrotar o dragão ou liquidar o Minotauro, o herói e a platéia têm motivos para celebrar. O herói, então, pode se apossar do tesouro que veio buscar, sua Recompensa. Pode ser uma arma especial, como uma espada mágica, ou um símbolo, como o Santo Graal, ou um elixir que irá curar a terra ferida.
Por vezes a "espada" é o conhecimento e a experiência que conduzem a uma compreensão maior e a uma reconciliação com as forças hostis.
Em Guerra nas estrelas, Luke salva a princesa Leia e captura os planos da Estrela da Morte, fundamentais para derrotar Darth Vader.
Dorothy escapa do castelo da Bruxa Malvada com a vassoura da Bruxa e os sapatinhos de rubi, importantes para voltar para casa.
Nesse ponto, o herói também pode solucionar um conflito com um de seus pais. Em O retorno de jedi, Luke se reconcilia com Darth Vader, que acaba revelando ser seu pai e, no fim das contas, um sujeito não tão mau.
O herói também pode se reconciliar com o sexo oposto, como ocorre nas comédias românticas. Em muitas histórias, a amada é o tesouro que o herói veio conquistar ou salvar, e geralmente nesse ponto há uma cena de amor, que celebra a vitória.
Do ponto de vista do herói, os membros do sexo oposto podem parecer Camaleão, um arquétipo de mudança. Parecem estar sempre transformando-se em outra coisa, mudando de forma ou idade, refletindo os aspectos sempre cambiantes do sexo oposto. Contos de vampiros, lobisomens e outros personagens que se transformam são ecos simbólicos dessa qualidade de mudança, que homens e mulheres vêem uns nos outros.
A Provação do herói pode assegurar a ele uma compreensão maior do sexo oposto, uma capacidade de ver além da aparência exterior que se transforma. E, com isso, pode levar a uma reconciliação.
O herói também pode se tornar mais atraente, em razão de ter sobrevivido à Provação. Conquistou o título de "herói" por ter corrido riscos extremos em favor de sua comunidade.

01 março 2010

ETAPAS DA JORNADA (8)

Texto extraído do Livro "A Jornada do Escritor" de Christopher Vogler.

8. A Provação


Aqui se joga a sorte do herói, num confronto direto com seu maior medo. Ele enfrenta a possibilidade da morte e é levado ao extremo numa batalha contra uma força hostil. A Provação é um "momento sinistro" para a platéia, pois ficamos em suspense e em tensão, sem saber se ele vive ou morre. O herói, como Jonas, está "no ventre da fera".
Em Guerra nas estrelas, é o momento terrível, nas entranhas da Estrela da Morte, em que Luke, Leia e seus amigos são aprisionados no gigantesco triturador de lixo. Luke é puxado para baixo pelos tentáculos do monstro que vive no esgoto, e é mantido tanto tempo lá dentro que a platéia começa a se perguntar se ele morreu. Em E.T., o adorável alienígena, momentaneamente, parece morrer na mesa de operação. Em O Mágico de Oz, Dorothy e os amigos caem na armadilha da Bruxa Malvada e parece que não têm saída. Nesse ponto de Um tira da pesada, Alex Foley está nas mãos dos homens do vilão, com uma arma apontada para a cabeça.
Em A força do destino, Zack Mayo vive sua Provação quando seu instrutor na Marinha o submete a um programa duríssimo, para atormentá-lo e humilhá-lo até que ele entregue os pontos. É um momento de vida-ou-morte psicológica, porque, se ele desistir, estará matando suas chances de vir a ser considerado um oficial e um cavalheiro. Mayo sobrevive à provação quando se recusa a desistir, e a provação o transforma. O sargento-instrutor, um Velho Sábio muito esperto, forçou-o a admitir sua dependência em relação aos outros, e a partir desse momento ele fica menos egoísta e passa a colaborar mais.
Nas comédias românticas, a morte que o herói enfrenta pode ser simplesmente a morte temporária da relação, como ocorre no segundo movimento do velho enredo que se resume em "O rapaz encontra a garota, o rapaz perde a garota, o rapaz ganha a garota". As probabilidades de que o herói fique ligado a seu objeto de afeição parecem mais remotas do que nunca.
Esse é um momento crítico em qualquer história. É uma Provação em que o herói tem de morrer ou parecer que morre, para poder renascer em seguida. É uma das principais fontes da magia do mito heróico. As experiências dos estágios precedentes levaram a platéia a se identificar com o herói e seu destino. O que acontece com ele está acontecendo conosco. Somos encorajados a viver com ele esse momento de iminência de morte. Nossas emoções são temporariamente deprimidas, para poderem reviver no "quando o herói retorna da morte". O resultado desse reviver é uma sensação de entusiasmo e euforia.
Quem planeja parque de diversões sabe empregar esse princípio. As montanhas-russas fazem seus passageiros acharem que vão morrer, e desencadeiam uma grande emoção, que deriva de roçar na morte e sobreviver a ela. Nunca se está mais vivo do que quando se olha a morte de perto.
Esse também é o elemento-chave nos ritos de passagem ou rituais de iniciação de confrarias e sociedades secretas. O iniciante é forçado a sentir o gosto da morte em alguma experiência terrível, e, depois, lhe é permitido que viva a ressurreição, renascendo como novo membro do grupo. O herói de cada história é um iniciante, sendo introduzido nos mistérios da vida e da morte.
Toda história necessita de um momento de vida-ou-morte, no qual o herói ou seus objetivos estão frente a um perigo mortal.

27 fevereiro 2010

ETAPAS DA JORNADA (7)

Texto extraído do Livro "A Jornada do Escritor" de Christopher Vogler.

7. Aproximação da Caverna Oculta

Finalmente, o herói chega à fronteira de um lugar perigoso, às vezes subterrâneo e profundo, onde está escondido o objeto de sua busca. Com freqüência é o quartel-general do seu maior inimigo, o ponto mais ameaçador do Mundo Especial, a Caverna Oculta. Quando o herói entra nesse lugar temível, atravessa o segundo grande limiar. Muitas vezes, os heróis se detêm diante do portão para se preparar, planejar e enganar os guardas do vilão. Essa é a fase da Aproximação.
Na mitologia, a Caverna Oculta pode representar a terra dos mortos. O herói pode ter que descer aos infernos para salvar a amada (Orfeu) ou a uma caverna para enfrentar um dragão e ganhar um tesouro (Sigurd, nos mitos noruegueses), ou a um labirinto para se defrontar com um monstro (Teseu e o Minotauro).
Nas histórias do ciclo do rei Arthur, a Caverna Oculta é a Capela Perigosa, o aposento ameaçador onde quem busca pode encontrar o Santo Graal.
Na mitologia moderna de Guerra nas estrelas, a Aproximação da Caverna Oculta está representada quando Luke Skywalker e seus companheiros são sugados para dentro da Estrela da Morte, onde vão enfrentar Darth Vader e libertar a princesa Leia. Em O Mágico de Oz, é quando Dorothy é levada para o castelo funesto da Bruxa Malvada e seus companheiros conseguem entrar para salvá-la. O título de Indiana Jones e o Templo da Perdição já revela qual é a Caverna Oculta do filme.
A aproximação compreende todas as etapas para entrar na Caverna Oculta e enfrentar a morte ou o perigo supremo.

26 fevereiro 2010

ETAPAS DA JORNADA (6)

Texto extraído do Livro "A Jornada do Escritor" de Christopher Vogler.

6. Testes, Aliados e Inimigos

Uma vez ultrapassado o Primeiro Limiar, o herói naturalmente encontra novos desafios e Testes, faz Aliados e Inimigos, e começa a aprender as regras do Mundo Especial.
Saloons e bares parecem ser bons lugares para essas transações. Muitos e muitos filmes de faroeste levam o herói a um saloon, onde sua coragem e determinação são testadas, e onde amigos e vilões são apresentados. Os bares também são úteis para que o herói obtenha informações e aprenda as novas regras que vigoram no Mundo Especial.
Em Casablanca, o Rick's Café é o antro das intrigas em que se forjam as alianças e as inimizades, e em que o caráter moral do herói é constantemente testado. Em Guerra nas estrelas, a cantina é o cenário de uma aliança fundamental com Han Solo, e de uma importante rivalidade com Jabba, o Hutt, que vai à forra, dois filmes depois, em O retorno de jedi. É nessa atmosfera surreal, violenta e estonteante da cantina, repleta de aliados bizarros, que Luke tem o primeiro gostinho do Mundo Especial empolgante e perigoso em que acaba de entrar.
Cenas como essa permitem que se faça o desenvolvimento de personagens, enquanto observamos como o herói e seus companheiros reagem à tensão. Na cantina de Guerra nas estrelas, Luke tem a chance de ver como é que Han Solo lida com uma situação difícil, e fica sabendo que Obi Wan é um sábio guerreiro, de muito poder.
Existem seqüências semelhantes em A força do destino, mais ou menos a essa mesma altura do filme, em que o herói faz aliados e inimigos, e encontra seu "interesse amoroso". Vários aspectos do personagem do herói — agressividade e hostilidade, vivência de brigas de rua, atitudes em relação às mulheres — se revelam sob pressão nessas cenas, uma das quais, é claro, acontece num bar.
Evidentemente, nem todos os Testes, Alianças e Inimizades ocorrem em bares. Em muitas histórias, como O Mágico de Oz, são simplesmente encontros no caminho. Nesse estágio, ao longo da Estrada dos Tijolos Amarelos, Dorothy adquire os companheiros Espantalho, Homem de Lata e Leão Medroso, e faz inimigos, como um pomar cheio de árvores falantes agressivas. Passa por alguns testes, como o de despregar o Espantalho, lubrificar o Homem de Lata e ajudar o Leão Medroso a lidar com o medo.
Em Guerra nas estrelas, os Testes continuam após a cena da cantina. Obi Wan ensina a Luke sobre a Força, fazendo com que ele lute de olhos vendados. As anteriores batalhas a laser, contra os guerreiros imperiais, são outro teste pelo qual Luke passa com êxito.

25 fevereiro 2010

ETAPAS DA JORNADA (3, 4 e 5)

Texto extraído do Livro "A Jornada do Escritor" de Christopher Vogler.

3. Recusa do Chamado (o Herói Relutante)

Agora é a hora do medo. Com freqüência, o herói hesita logo antes de partir em sua aventura, Recusando o Chamado, ou exprimindo relutância. Afinal de contas, está enfrentando o maior dos medos — o terror do desconhecido. O herói ainda não se lançou de cabeça em sua jornada, e ainda pode estar pensando em recuar. É necessário que surja alguma outra influência para que vença essa encruzilhada do medo — uma mudança nas circunstâncias, uma nova ofensa à ordem natural das coisas, ou o encorajamento de um Mentor.
Nas comédias românticas, o herói pode relutar em se deixar envolver (talvez devido à dor causada por uma relação anterior). Numa história de mistério, o detetive pode não aceitar o caso no primeiro momento — e só depois, pensando melhor, mudar de idéia.
A essa altura, em Guerra nas estrelas, Luke recusa o Chamado à Aventura que lhe faz Obi Wan, e volta para a fazenda dos tios, onde descobre que eles foram atacados pelas tropas do Imperador. De repente, Luke não hesita mais e fica ansioso para sair em sua busca. O mal causado pelo Império passou a ser uma questão pessoal. E ele fica motivado.


4. Mentor (a Velha ou o Velho Sábio)

Nesse ponto, várias histórias já apresentaram um personagem como Merlin, que é o Mentor do herói. A relação entre Herói e Mentor é um dos temas mais comuns da mitologia, e um dos mais ricos em valor simbólico. Representa o vínculo entre pais e filhos, entre mestre e discípulo, médico e paciente, Deus e o ser humano. O Mentor pode aparecer como um velho e sábio mago (Guerra nas estrelas), um sargento-instrutor exigente (A força do destino), ou um velho treinador de boxe rabugento (Rocky: Um lutador). Na mitologia de "The Mary Tyler Moore Show", era Lou Grant. Em Tubarão, é o personagem ríspido de Robert Shaw, que sabe tudo sobre tubarões.
A função do Mentor é preparar o herói para enfrentar o desconhecido. Pode lhe dar conselhos, orientação ou um equipamento mágico. Obi Wan, em Guerra nas estrelas, dá a Luke a espada de luz do pai dele, que será necessária nas batalhas contra o lado negro da Força. Em O Mágico de Oz, a Bruxa Glinda orienta Dorothy e dá a ela os sapatinhos de rubi que acabam levando a menina de volta para casa.
Entretanto, o Mentor só pode ir até um certo ponto com o herói. Mais adiante, o herói deve ir sozinho ao encontro do desconhecido. E, algumas vezes, o Mentor tem que lhe dar um empurrão firme, para que a aventura possa seguir em frente.


5. Travessia do Primeiro Limiar

Finalmente, o herói se compromete com sua aventura e entra plenamente no Mundo Especial da história pela primeira vez — ao efetuar a Travessia do Primeiro Limiar. Dispõe-se a enfrentar as conseqüências de lidar com o problema ou o desafio apresentado pelo Chamado à Aventura. Este é o momento em que a história decola e a aventura realmente se inicia. O balão sobe, o navio faz-se ao mar, o romance começa, o avião levanta vôo, a espaçonave é lançada, o trem parte.
Freqüentemente, os filmes são construídos em três atos, que podem ser vistos como uma representação de:
a. o herói decide agir;
b. a ação propriamente dita;
c. as conseqüências da ação.
O Primeiro Limiar marca a passagem do primeiro para o segundo ato. Tendo dominado seu medo, o herói resolveu enfrentar o problema e partir para a ação. Acaba de partir em sua jornada, e não pode mais voltar atrás.
É esse o momento em que Dorothy inicia sua caminhada pela Estrada dos Tijolos Amarelos. Axel Foley, o herói de Um tira da pesada, resolve desafiar a ordem do chefe e deixa seu Mundo Comum de Detroit para investigar o assassinato do amigo no Mundo Especial de Beverly Hills.

24 fevereiro 2010

ETAPAS DA JORNADA (1 e 2)

Texto extraído do Livro "A Jornada do Escritor" de Christopher Vogler.

"(...)Os estágios da Jornada do Herói podem ser traçados em todo tipo de história, e não apenas nas que mostram aventuras e uma ação física "heróica". O protagonista de toda história é um herói de uma jornada, mesmo se os caminhos que segue só conduzirem para dentro de sua própria mente ou para o reino das relações entre as pessoas(...)"

1. Mundo Comum

A maioria das histórias desloca o herói para fora de seu mundo ordinário, cotidiano, e o introduz em um Mundo Especial, novo e estranho. É a conhecida idéia de "peixe fora d'água", que gerou inúmeros filmes e espetáculos de TV (O fugitivo, A família Buscapé, A mulher faz o homem, Na corte do rei Arthur, O Mágico de Oz, A testemunha, 48 horas, Trocando as bolas, Um tira da pesada etc).
Bom, mas se você vai mostrar alguém fora de seu ambiente costumeiro, primeiro vai ter que mostrá-lo nesse Mundo Comum, para poder criar um contraste nítido com o estranho mundo novo em que ele vai entrar.
Em A testemunha, primeiro se vê a vida do policial urbano e da mãe e filho, da seita dos Amish, em seus mundos normais, antes que eles sejam revirados e jogados em ambientes completamente estranhos: os Amish esmagados pela grande cidade, e o policial encontrando o mundo dos Amish no século XIX. Também em Guerra nas estrelas, primeiro vemos o herói Luke Skywalker, morto de chateação em sua vidinha na fazenda, e só depois lançado para enfrentar o universo.
Da mesma forma, em O Mágico de Oz, dedica-se um tempo considerável para estabelecer como é a vidinha normal e sem graça de Dorothy no Kansas, antes que ela seja carregada pelo furacão até o mundo maravilhoso de Oz. Nesse caso, o contraste é acentuado pelo fato de as cenas do Kansas serem filmadas num preto-e-branco severo, enquanto as cenas em Oz chegam em Technicolor.
A força do destino esboça um contraste nítido entre o Mundo Comum do herói — o de um garoto rude, com seu pai beberrão e mulherengo — e o Mundo Especial em que o herói entra, uma escola de aviação aeronaval, onde tudo tem que ser meticulosamente exato e imaculadamente limpo.

2. Chamado à Aventura

Apresenta-se ao herói um problema, um desafio, uma aventura a empreender. Uma vez confrontado com esse Chamado à Aventura, ele não pode mais permanecer indefinidamente no conforto de seu Mundo Comum. Pode ser que a terra esteja morrendo, como nas histórias do rei Arthur em busca do Santo Graal, o único tesouro capaz de curar a terra ferida. Em Guerra nas estrelas, o Chamado à Aventura vem da desesperada mensagem holográfica enviada pela princesa Leia ao velho sábio Obi Wan Kenobi, que pede a Luke para aderir à busca. Leia foi levada pelo malvado Darth Vader, como a deusa grega da primavera, Perséfone, seqüestrada para o mundo subterrâneo por Plutão, o senhor dos mortos. Sua salvação é vital para restaurar o equilíbrio normal do universo.
Em muitas histórias de detetive, o Chamado à Aventura é o pedido para que o detetive aceite investigar um novo caso e solucionar um crime que perturbou a ordem das coisas. Um bom detetive deve corrigir o erro, além de resolver um crime.
Em enredos de vingança, o Chamado à Aventura muitas vezes é um mal que deve ser reparado, uma ofensa contra a ordem natural das coisas. Em O conde de Monte Cristo, Edmond Dantes é aprisionado injustamente e levado à fuga por seu desejo de vingança. O enredo de Um tira da pesada parte do assassinato do melhor amigo do herói. Em Rambo: Programado para matar, a motivação de Rambo é o tratamento injusto que recebe nas mãos de um xerife intolerante.
Nas comédias românticas, o Chamado à Aventura pode ser o primeiro encontro com alguém especial, mas irritante, que o herói ou a heroína passa a perseguir e enfrentar.
O Chamado à Aventura estabelece o objetivo do jogo, e deixa claro qual é o objetivo do herói: conquistar o tesouro ou o amor, executar vingança ou obter justiça, realizar um sonho, enfrentar um desafio ou mudar uma vida.
O que está em jogo, muitas vezes, pode ser expresso por uma pergunta que, de certa forma, é feita pelo próprio chamado. Será que E.T. (ou Dorothy, em O Mágico de Oz) conseguirá voltar para casa? Conseguirá Luke salvar a princesa Leia e derrotar Darth Vader? Em A força do destino, será que o herói vai ser expulso da escola aeronaval, devido a seu egoísmo e à implicância de um instrutor exigente, ou será que ele vai acabar conquistando o direito de ser chamado de oficial e cavalheiro? O rapaz conhece a garota, mas será que consegue ficar com ela?

23 fevereiro 2010

A JORNADA DO ESCRITOR


Bom dia!

Hoje vou compartilhar com vocês meu primeiro aprendizado com a Monica Berger, extraído do Livro "A Jornada do Escritor" de Christopher Vogler, que eu indico como leitura inicial para todos que pretendem seguir escrevendo.

Christopher Vogler é um roteirista de Hollywood, famoso por ter escrito o "memorando The Writer's Journey: Mythic Structure For Writers" (A Jornada do Escritor: Estrutura Mítica para Roteiristas), como um guia interno para os roteiristas dos estúdios Walt Disney. Trabalhou para os estúdios Disney, Fox 2000 Pictures, e para a Warner Bros sempre nos departamentos de desenvolvimento de idéias. Também já foi professor da Escola de Cinema e Televisão da Universidade do Sul da Califórnia, na Divisão de Animação e Artes Digitais, bem como na extensão da UCLA. Atualmente, é presidente da empresa Storytech.
Vogler foi inspirado pelo trabalho do antropólogo Joseph Campbell, particularmente "O Herói de Mil Faces" e o conceito do monomito. Ele usou o trabalho de Campbell para criar o agora lendário memorando corporativo de sete páginas para roteiristas de Hollywood, "A Practical Guide to The Hero With a Thousand Faces" (Um Guia Prático para o Herói de Mil Faces). Depois desenvolveu o memorando no livro "The Writer's Journey: Mythic Structure For Writers" (A Jornada do Escritor: Estrutura Mítica para Roteiristas), publicado no final dos anos 1990.

O livro A Jornada do Escritor, de Christopher Vogler, busca enumerar ao leitor todas as etapas de construção de personagens e situações necessárias para se escrever uma boa história. As etapas da jornada são construídas a partir da estrutura “início – meio – fim”.

1o. Ato
1. Mundo Comum
2. Chamada à aventura
3. Recusa do chamado
4. Encontro com o mentor

2o. Ato
5. Travessia do Primeiro Limiar
6. Testes, aliados, inimigos
7. Aproximação da Caverna Oculta
8. Provação
9. Recompensa

3o. Ato
10. Caminho de volta
11. Ressurreição
12. Retorno com o elixir

Amanhã, mais detalhes!!!